É domingo de fim de janeiro e o dia recomeça na cidade pequena. O céu num tom de azul que fazia tempo que não via assim, uma brisa gelada da manhã de uma manhã que aparentava ser comum. As malas estão posicionadas em baixo da janela do quarto; a brisa que entra faz com que o filtro dos sonhos pendurado na janela dance com o vento e rodopie suavemente. São as primeiras horas de um dia que parecia distante, mas que em um piscar de olhos chegou.
Na noite anterior estava eu,
junto com os amigos que faziam qualquer segunda feira parecer dia de festa. Que
faziam das festas as melhores oportunidades de provar um pouco do céu, fugir
dos padrões, transbordar felicidade simplesmente por estar tocando a nossa
música... a música que fazia o evento da noite ser aquela dança, dessas que
você finge não ter ninguém te olhando.
Meus pensamentos foram dispersos no momento em
que o taxi chegou e percebi que é o momento que foi tema das minhas insônias.
Despeço com um abraço das pessoas mais importantes em minha vida, e entro no
carro com as malas que passei horas organizando. Na companhia de quem foi
sempre meu porto seguro chego à rodoviária. Passagem comprada, aquele clima de
despedida, e falta assunto pra quem viveu tanta coisa junto que se resumiu num
abraço desses que não dá vontade de sair nunca. Com as vozes engasgadas e todo
o discurso planejado minuto antes se dissolveu numa troca de olhares silenciosa
e o som do motor do ônibus preparando para partir.
Aos poucos a cidade pequena vai
ficando para trás, na velocidade dos acontecimentos vai tudo se modificando. A
impactante cidade grande vai se desenhando e eu aparentando ser pequeno diante
de tudo aquilo, um turbilhão de pensamentos, um frio na barriga, uma ansiedade
e com meu all star azul desço com pé direito, assim como comecei o ano e ‘com um giz eu fiz dois riscos, uma ponte a
me libertar, quem tem asas vive em perigo, por querer um céu pra voar’*.
* Citei: música A Noite dos
Jangadeiros (Clareou) - Jorge Vercillo / J. Velloso
