domingo, 13 de janeiro de 2013

Histórias de vó



     Quando ouço falar sobre 'tradição' me remete logo a ideia de história, de conversa que vai estender até a hora do café quentinho feito na hora. Nesse ambiente aconchegante de casa de vó que passei a tarde ouvindo a história de uma tradição que meu avô fez questão de cultivar por toda vida, a tradição da Folia de Reis.
     Desde pequeno me via envolvido nessa tradição sempre que chegava o começo de ano. Na época não compreendia bem o que significava toda aquela movimentação, os palhaços, os tambores, a cantoria, a festa, mas, eu respeitava por entender que era algo grandioso que acontecia.
     Aqui no interior de Minas é comum esse costume da Folia de Reis, e a folia que meu avô cuidou até o último dia de sua vida completa cinquenta anos; e junto com a minha vó escrevemos a história, que ela sabe de cor e salteado.
     Enquanto ela contava como eram preparados os doces caseiros para a chegada dos foliões, ia me surgindo as imagens do pano de chita, que era usado nos trajes dos palhaços; na bandeira enfeitada com flores e fitas coloridas que trazia pelos enfeites a alegria da festa; o som dos tambores e pandeiros que marcavam o tempo da cantoria que nunca acabava... eita saudade gostosa da época que eu pegava os instrumentos da folia pra brincar de fazer música, como dizia meu avô “vamo parar com essa narquia”.
     Guardo dele esse compromisso em algo que fazia a vida dele melhor, que era motivo de felicidade; É honrável essa  força que ele tinha para conseguir cumprir o que acreditava.

PS. Abaixo segue o texto que conta a história da Folia de Reis que meu avô fez parte.               
                

Folia de Reis de São Bento

     A Folia de Reis de São Bento foi fundada em 1963, tendo como organizador Olímpio Estevão Filho, e como embaixador Armindo da Silva Lemes e demais foliões; Carrega o nome São Bento por ter tido o bairro com este nome como local de encontro, chegadas e todas as festividades.
     A folia é muito conhecida na região, e durante suas festividades recebia foliões da cidade Cambuquira, que juntavam com o público Campanhense para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, comemorado no dia 06 de janeiro.
     O dia do encontro era organizado por Maria Conceição de Carvalho, conhecida pelos foliões como Lica; Ficava encarregada de preparar o jantar e os diversos tipos de doces para receber os convidados e seus familiares. Em combinação com o forró que acontecia durante a noite, após o jantar, era servido os famosos doces de panela, como arroz doce, doce de cidra e figo, preparados com todo o carinho por Dona Lica e suas filhas, que chegavam a preparar cerca de duzentos litros de doces e mais de cinquenta quilos de queijos para a festividade.
     Durante toda sua vida, Olímpio Estevão Filho cuidava com o maior apreço da Folia de Reis de São Bento; em 1984, após vinte e um anos como folião e organizador, ele adoeceu, e pediu que seu genro Olímpio Fernandes Goulart e seus filhos Antônio Estevão de Carvalho, José Olímpio Estevão e Luiz dos Reis Estevão (Carlinho) continuassem com a tradição da Folia de Reis. E dando continuidade ao trabalho de Dona Lica,  a responsabilidade da organização da festa passou para Neuza Aparecida Esteves Goulart e Mariza do Carmo Estevão.
     A partir de 1985, Olímpio Fernandes Goulart, atendendo ao pedido de seu sogro tomou frente aos cuidados da Folia de São Bento, que segundo relato de sua esposa, era a principal alegria que tinha, sendo a única festa que participava.
     A Folia de Reis de São Bento realizava suas visitas, revivendo a história dos Três Reis Magos ao encontro do menino de Jesus em Belém, no período de 31 de dezembro à 06 de Janeiro, no qual o último dia era tido como a chegada da estrela do Oriente que guiou os Três Reis Magos até o filho de Deus; Durante os domingos de maio à julho os integrantes da Folia de São Bento, formavam a Folia do Divino Espírito Santo, que levavam as casas a luz do Divino Espírito Santo muitas vezes carregando promessas dos devotos.
     No ano de 2009 a folia realizou uma visita na cidade de Cordislândia, na casa de um dos foliões. No dia 08 de julho de 2009, Olimpio Fernandes Goulart faleceu após concluir suas obrigações como organizador da Folia de São Bento, participando também neste ano da Folia do Divino Espírito Santo.
   Em 2010 a tradição continuou, mantendo como organizadores: Antônio Estevão de Carvalho,  José Olímpio Estevão e Luiz dos Reis Estevão (Carlinho). No qual estão até hoje mantendo viva a tradição da Folia de Reis de São Bento, completando neste ano 50 anos de tradição e história.

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