quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Descompromissado


     Chega um momento da vida que percebemos que os compromissos anotados na agenda tornaram-se obrigações e, que se formos questionados sobre o verdadeiro motivo de comparecer a todos eles a resposta será algo como: “não posso faltar”, ou algum similar a esta desculpa. Os momentos com os amigos resumem-se em encontros rápidos em meio ao malabarismo das obrigações.
     Por um longo tempo acabei me tornando protagonista desta situação enquanto tentava equilibrar o trabalho, faculdade, estágio, provas... eis que recebi de uma grande amiga (de anos de histórias), um convite inusitado de entrar na aula de violão com ela.
      A única experiência com música que tive em minha vida foi participar de um grupo de coral, no qual me divertia mais com os exercícios de aquecimento com a fonoaudióloga do que tentando encaixar minha voz desafinada no conjunto de tenores, sopranos, e baixos. O resultado foi desastroso e foi o fim da carreira musical.
     Desta vez, o convite era como um presente dentro de uma grande caixa. A aula de violão era essa caixa, e o presente era ter um tempo com essa amiga. As aulas aconteciam duas vezes por semana e o único horário disponível era de manhã antes mesmo de qualquer outro compromisso, mesmo que este fosse o café da manhã.
     Aprender os acordes, os ritmos, as sequencias era a possibilidade de estar junto com alguém que faz toda a diferença na minha vida. É realmente triste admitir, mas era como se tivesse duas mãos esquerdas (para um destro), mas sentia uma sensação incrível nas raras vezes que conseguia acertar alguma sequência; e nas incontáveis vezes que o som ecoava distorcido, e nada suave de se ouvir era logo substituído pela gargalhada única e exótica dessa amiga (misturada com suspiros profundos e esganiçados, que só ela consegue rir daquele modo), que transformava aquelas manhãs em momentos singulares do meu dia.
     Se hoje fosse questionado sobre o verdadeiro motivo de comparecer as aulas de violão (e não levar jeito para música) a resposta seria algo como: “simples, essas aulas me fazem mais feliz”, e não é que é verdade aquela história das coisas simples da vida.
 


Um comentário:

  1. Sabe, há alguns anos eu passava dias e dias sem sentir um pingo de alegria, passei a perceber que na verdade o problema estava em mim. O mundo está aí... a vida está passando, os momentos felizes passam por nós a todo instante... enxergá-los é uma dádiva! Hoje posso dizer que sou feliz... pelo simples fato de olhar pela janela e ver a chuva, e estar com uma xícara de chá na mão!

    Fique tranquilo... talvez os seus "momentos felizes" só mudem de forma. Você vai continuar achando uma forma de encontrá-los!

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